26 outubro 2008

ALGO A DIZER

para Caio Fernando Abreu

- Se eu dissesse, tu acreditarias?
- O quê?
- Tu acreditarias no que tenho a dizer?
- Dizer? Como?
- Com a boca, ora; a vibração das cordas vocais. Acreditarias?
- Não sei...
- O quê tu não sabes?
- Se tu vais dizer.
- Direi desde que acredites. Acreditas?
- Estás me pressionado. Não ajo bem sob pressão.
- Estás mudando de assunto. De uma vez por todas: acreditarias no que tenho a dizer? Por favor, preciso dizer.
- Preciso pensar. Vens a mim e pedes que eu acredite em algo que nem sei o que é! Sempre pensei que devemos duvidar antes de acreditar, mas acreditar sem saber é estranho pra mim.
- Sei.
- Sabes o quê?
- Que não acreditas em mim.
- Não, não foi isso que eu disse. Disse que para mim é estranho acreditar sem saber, só isso.
- E se eu dissesse que irás gostar, acreditarias?
- Não sei.
- Mas não sabes o quê, meu Deus?
- Se acreditaria. Como se trilhasse um caminho somente para obter o resultado. Não é isso?
- Isso o quê?
- O resultado. O objetivo. A chegada.
- Sim, mas é exatamente isso que eu tenho a dizer.
- Por que tu não falas, então?
- Porque não tenho certeza se acreditarias. E para dizer eu preciso da certeza.
- Bem, e se eu dissesse que acreditaria.
- Eu diria que te amo.