26 março 2010

HAVIA : NO FINAL DA FRASE

havia : no final da frase : que no início não me diziam nada e se nada é o fim pode também ser parte do princípio como posso explicar tive a impressão que tudo partia dali daqueles : no final da frase puxei um panfleto antigo que guardara no bolso da calça puxei uma caneta para tentar esquecer mas quem disse quem disse que : a gente esquece assim andei cabisbaixo por um tempo medi os meus passos andei perto do que me foi destinado mas depois esqueci e quem disse que : a gente esquece assim quando bati em sua porta era uma noite chuvosa mil coisas passavam pela minha cabeça desde os desenhos que vira na livraria num livro de arte que me entorpeceu por uma tarde toda até os dias que se passaram e eu não vi quando toquei a campainha de sua casa eu já sabia o que viria ao meu encontro eu já sabia o que esperava por nós uma noite num bar qualquer entre tantas cervejas você me disse já deu meu bem não entendi no princípio como no princípio não havia entendido o significado daqueles : no final da frase depois me dei conta me dei conta que tudo não passava de um mal-entendido e você repetindo já deu pra nós dois meu bem era uma noite chuvosa e deixei aquele bar que também era tua casa sem sentir o chão que eu pisava tudo girava nada fazia sentido como para mim até então não fazia sentido aqueles : no final da frase insisti para que você me explicasse mas não tinha explicação alguma não havia mais nada que pudesse ser dito porque tudo que tivesse de ser dito ficou para trás então me dei conta me dei conta quando lembrei do bilhete sobre a mesa da sala que dizia uma frase você bem sabe nunca deve terminar com :

13 março 2010

PELA PASSAGEM DE UM DIA NADA ENGRAÇADO

12/03/2010

Depois dizem que ando chato, que reclamo de tudo, que não acho nada engraçado. Pudera. Quando soube da morte súbita e mal-humorada do cartunista Glauco e de seu filho Raoni, hoje pela manhã, meu mundo desabou. Pensei: "agora ferrou, levaram o canto que restava do meu sorriso". E segui: "rir está cada vez mais difícil". Daí chamei o pensador que existe dentro de mim: "um povo que mata seus cartunistas a tiro é, no mínimo, um povo que precisa seriamente rever a sua condição de povo. Porque povo, a meu ver, remete à nação e nação, à cultura. Logo, este é um atentado contra toda uma cultura. O fato é que lembrei da minha preocupação quando o amigo Alcemir um dia me disse que estávamos perdendo a elegância. Agora me desespero, pois a única palavra que me vem à mente é desesperança. E ponto. Hoje, mais do que nunca, o dia nasceu de cara amarrada.