14 maio 2010

O TELEFONE

quando o telefone tocou pela primeira vez eu estava no banho corri para atender mas não cheguei a tempo quiçá uma ligação para mudar minha vida quiçá somente mais uma ligação perdida têm coisas que não podemos não devemos e não queremos decidir pelo destino têm coisas que já foram decididas e pronto

toda vez que o sol bate na janela toda a sala muda de cor parece óbvio mas se você visse entenderia toda vez que o sol bate na janela da sala pela manhã as paredes deixam de ser brancas e passam a amarelas depois laranja vermelhas roxas lilases e por fim já no final do dia cintilam num azul celeste

naquela manhã não havia de ser diferente como de fato não foi não era a primeira vez que percebia essa movimento cromático em minha casa e entendi isso como um sinal bastante inusitado para minha modesta moradia

voltei para o banheiro e o telefone tocou novamente dessa vez não me apressei deixei tocar vesti as calças a camisa procurei o chinelo e o telefone parou outra vez

fui à cozinha e preparei um café descafeinado bem forte com açúcar mascavo passei manteiga no pão cortei uma fatia de queijo prato e o telefone tocou novamente e outra vez deixei tocar

vagarosamente descansei a faca sobre a mesa afastei a cadeira e me dirigi à sala as paredes já estavam ficando amarelas peguei o fone levei ao ouvido e

pronto

Olavo não me deixe

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