27 julho 2011

início de tudo
de muitos
outros

do tempo
do vento
do sopro
do nada

artifício das águas

a luminosidade
também é um atalho
para o
esquecimento

20 julho 2011

Adianta dizer que
acordei tarde outra vez e
que não tomei café direito mas
dei de comer aos cães

Adianta dizer que
recolhi o jornal molhado da chuva e
que verifiquei mais de duas vezes as
mesmas portas fechadas

Adianta dizer que
o trânsito não estava caótico e
que andei nos limites da velocidade
como sempre faço

Adianta dizer que
almocei tranquilamente
porque estava exatamente
dentro do horário

Adianta dizer que
um olhar pontiagudo me incomodou
e por ser sempre assim é melhor
eu não ligar

Adianta dizer que
não arrisquei outro caminho
porque é sempre conveniente buscar
o caminho que já se conhece

Adianta dizer que
apesar de tudo amanhã é outro dia
chovendo ou não é outro dia e que
é preciso ter respeito por ele

Não, nada disso adianta dizer
se o sorriso for apenas uma artifício
cruel para manter tudo
em equilíbrio

17 julho 2011

o poder é fruto
que se colhe podre
parece puro
porém consome

irmão, não te iluda
não perca a razão
toda sorte muda
a consciência não

o poder é fruto
que do pé vai ao chão
que de tanto muito

que de nada não
o poder é fruto
que te cai da mão
me deixe andar
não quero ser breve
os meus sapatos tomam jeito é no tempo
ainda é cedo
devo seguir
ando em fase de encasulamento
as rimas não me seduzem mais
nem menos

agora eu só quero o verso
dito ao contrário
não, não entendi o que você disse
o ruído dos motores lá fora

repete, por favor
mas dessa vez seja sincero
e breve