28 novembro 2015

O mágico


Fonte: http://ultradownloads.com.br/papel-de-parede/Mao-Magica/




Foi na área externa da estação de ônibus, no centro de Florianópolis, que parei para um cigarro. Iniciava a noite e eu havia percorrido até ali a metade do caminho entre o trabalho e minha casa. 

Aquele dia estava especialmente agitado. Se não me falha a memória era sexta-feira e a pressa de chegar ao doce lar fazia da maioria marchadores em potencial.

Tudo pronto. Em pé, porque eu também tinha pressa, dei a primeira tragada e a segunda. Na terceira, vi uma moça se aproximar e sentar na mureta que havia do meu lado esquerdo.

Também acendeu um cigarro.

Eu pensava em algo, ou observava um enquadramento para uma fotografia, ou consultava o celular. Não estou certo. Lembro apenas que fui interrompido por um rapaz, que me pediu licença e se apresentou:

- Meu nome é Eurico, sou de Curitiba e mágico. Eu e minha namorada viemos para Floripa passar uns dias, mas a grana acabou e ontem, por azar, a polícia me parou, deu um atraque e rasgou o baralho com o qual eu fazia as minhas mágicas. Disseram que jogo de azar no Brasil é proibido. Então ficamos numa roubada. Se me permite, faço uma mágica com esta moeda e você contribui com o que puder, só pra gente tomar um banho e comer algo ali na rodoviária.

Levei fé no cara.

- Vai lá. – eu disse.

Ele apresentou aquele velho truque de contar uma história gesticulando rápido com o níquel e, de repente, a moeda de 50 centavos some.

Dei uma risada, botei a mão no bolso e entreguei-lhe outra moeda, esta de um real – era o único dinheiro que tinha comigo naquele momento.

A moça do meu lado esquerdo, que também observava o show, tirou uma nota de dois reais e estendeu ao rapaz.

Ele agradeceu e foi saindo. Eu o chamei de volta.

- Opa, mas o truque não está completo. A moeda tem de aparecer.

Ele novamente fez alguns gestos com as mãos e, óbvio, tirou a moeda de trás da própria orelha. Me deu uma piscadinha, olhou para a mulher do meu lado esquerdo e disse:

- Você me dá um cigarro?

Ela tirou o maço da bolsa, sacou um cigarro e o ofereceu ao mágico. Depois, deu-lhe o isqueiro. O rapaz agradeceu, despediu-se e se afastou. Em seguida, a moça fez um comentário sem me olhar, mas dito para que eu ouvisse:

- Daqui a pouco estaremos nós pedindo.

E contraiu a boca.

- É a democratização, na vida real, dos bens de consumo - eu disse.

Dei uma risadinha e apaguei o cigarro. Já era hora do meu ônibus partir.